Você conhece a expressão ‘zipar’, não é? Como em zipar um arquivo. O zíper está relacionado a condensar.
E se a Bíblia pudesse ser condensada, zipada? E se tivéssemos apenas um único versículo da Bíblia que pudesse nos guiar em nossa caminhada espiritual?
Se restasse apenas um texto da Bíblia para compreendermos o plano de Deus para a humanidade, qual seria esse texto?
Se eu te perguntasse nesta manhã como, de fato, Deus salva, você teria uma resposta clara e direta para compartilhar com as pessoas?
Como Deus salva?
O texto que quero compartilhar com vocês está na carta de Paulo aos Efésios. Abra sua Bíblia comigo em Efésios, capítulo 2, e vamos ler juntos o versículo 8.
Em Efésios 2:8, Paulo, um grande teólogo, escreve sobre a salvação, explicando como Deus nos salva.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.”
Este versículo, que é curto e simples.
Se entendermos esse versículo, teremos compreendido como Deus salva. A Palavra de Deus deve confortar os desconfortáveis e desafiar os acomodados. Se a Palavra não mexe conosco, ela não está surtindo o efeito desejado.
‘Porque pela graça sois salvos.’ Somos salvos pela graça. E aí surge a pergunta: o que é graça?
Os mais antigos devem se lembrar, né? Eles diziam: ‘Qual é a tua graça?’, fazendo alusão ao nome. Era uma forma de perguntar: ‘Qual é o seu nome?’. A graça, nesse caso, podia significar isso — o nome.
Na igreja, de vez em quando, fazemos o culto de ‘Ações de Graça’, que está relacionado a um espírito de gratidão que habita no coração. Às vezes, alguém diz algo engraçado, e achamos graça. Na língua portuguesa, há muitas variações do uso da palavra.
Mas, o que é graça para Paulo? O que é graça para a Bíblia? Graça é o amor que perdoa. ‘Porque pela graça sois salvos.’ Graça é a força divina que atua na salvação do ser humano, o que move o coração de Deus a salvar Seus filhos.
A graça é aquilo que você recebe sem merecer e sem ter como oferecer algo em troca. É por isso que a Bíblia diz: ‘Porque pela graça sois salvos’. Somos salvos unicamente pela graça.
Com esse conceito em mente, deixe-me fazer algumas perguntas para vocês. Se somos salvos pela graça, nada do que fazemos pode contribuir para a nossa salvação, correto? Pois somos salvos pela graça.
Então, surgem as perguntas:
Guardar a lei de Deus contribui para a salvação? Sim ou não?
Frequentar a igreja ajuda na salvação? Sim ou não?
Devolver o dízimo colabora com a salvação? Sim ou não?
Fazer trabalho missionário me salva? Sim ou não?
E é: não. Nada disso contribui para a salvação. De fato, a resposta é não.
Se a resposta fosse sim, isso significaria que você poderia contribuir de alguma forma para a sua salvação, e então a salvação não seria pela graça. Somos salvos pela graça e, se é pela graça, nada do que fazemos pode contribuir para isso, pois a salvação não é pelas obras.
Paulo é muito claro quando afirma: ‘Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus’. O que é um dom? A palavra em inglês, ‘gift’, ilustra bem — é um presente. Um dom é algo dado gratuitamente. Quando alguém te dá um presente, você tira dinheiro do bolso para pagar? Se o fizesse, não seria um presente.
Se somos salvos pela graça e a salvação é um dom de Deus, não há nada que você possa fazer para pagar por isso. A salvação vem pela graça, por meio da fé, e isso não vem de nós; é um dom de Deus oferecido a toda a humanidade. Todos nascemos com esse presente, o direito à vida eterna. Alguns aceitam esse presente, outros não.
Paulo, no versículo 9, diz algo notável: ‘Não é por obras, para que ninguém se glorie’. Se a salvação pudesse ser conquistada por obras, teríamos motivo para nos vangloriar, mas não é assim. Como mencionei, nada do que fazemos pode contribuir para nossa salvação, pois ela não vem das obras, mas pela graça. Talvez essa seja a verdade mais impactante que a Bíblia nos ensina.
Você sabe qual é a curiosidade? O mais intrigante é que não é fácil aceitar essa verdade. A gente tende a resistir, porque queremos pagar de alguma forma. Muitos acham mais simples tentar conquistar a salvação do que recebê-la como um presente, e por isso resistem a essa mensagem.
Eles não concordam com a ideia de que a salvação seja de graça. Essa verdade é tão radical na Bíblia que Jesus contou uma parábola e viveu uma experiência para ilustrá-la de maneira mais profunda.
Vamos começar pela história que Jesus contou.
Você conhece essa história? Ela está em Lucas, capítulo 18. Jesus contou sobre dois homens que subiram ao templo para orar: um fariseu e um publicano.
Os dois foram ao templo para orar. O fariseu era um líder religioso estrito, o homem que praticava tudo o que ensinava. Já o publicano era o pária da sociedade, o pecador que ninguém aceitava, os rejeitados. Inclusive, Cristo foi acusado de se associar com publicanos e pecadores.
Jesus continuou a narrativa: quando os dois homens chegaram ao templo, o fariseu orava de si para si. É interessante essa expressão, não é? Ele estava falando consigo mesmo. ‘Graças te dou, ó Pai, pois não sou como os demais homens. Eu não sou como os pecadores, não sou como os idólatras, não sou como os adúlteros.
E muito menos como este publicano. ‘Obrigado, Senhor, porque eu sou bom. Obrigado, Senhor, porque jejuo duas vezes por semana. E obrigado, Senhor, porque dou o dízimo de tudo que recebo. Obrigado, Senhor, porque não perco um culto na igreja. E obrigado, Senhor, porque faço trabalho missionário. Obrigado, Senhor, porque sou ancião da igreja há 30 anos.’
E esse homem foi falando essas coisas, e ele estava sendo sincero. Jesus mesmo comentou sobre o ato de dizimar do fariseu.
Jesus disse que eles eram tão rigorosos que até dizimavam o endro e o cominho. Se eu quisesse trazer a expressão de Cristo para os dias atuais, diria que, se um fariseu tivesse uma horta em casa e brotasse um pé de alface com dez folhas, ele arrancaria uma delas para devolver como dízimo. Você faria isso? Ele fazia, sendo um estrito guardião da lei.
Após apresentar uma longa lista de suas virtudes, ele também mencionou uma de suas vantagens: ‘Eu não sou como esse publicano que aí está.’
Jesus continua a história dizendo que o publicano também subiu ao templo para orar. Ele não tinha coragem nem de levantar os olhos aos céus, mas batia no peito e fazia apenas uma pequena oração: ‘ Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! !’. Ele reconheceu sua pecaminosidade e sua indignidade. Jesus voltou-se para o seu auditório e perguntou: ‘Qual desses dois vocês acham que desceu justificado do templo?’ Todos pensavam, claro, que era o fariseu. Mas Jesus disse que não, que foi o publicano. O publicano aqui é o justificado; ele foi quem recebeu a justificação divina. E por quê? Porque, simplesmente, ele reconheceu sua pecaminosidade e sua necessidade de salvação.
E enquanto aquele que pensava em fazer tudo para ser salvo estava indo na contramão do plano de Deus, vale a pena ressaltar que, dentro da igreja, há muitas pessoas frustradas. E por que estão frustradas? Porque não compreendem como Deus salva. Elas passam anos e anos tentando fazer as coisas para serem salvas, frequentando a igreja a cada culto para se salvar, tentando guardar a lei de Deus, esforçando-se ao máximo para alcançar a salvação, quando a Palavra ensina que não somos salvos pelas coisas que praticamos nem pelas obras que realizamos. Somos salvos pela graça. Volto ao verso: ‘Porque pela graça sois salvos por meio da fé, e isso não vem de vós; é um dom de Deus, não de obras,’ para que ninguém se glorie. Tentar praticar algo para ser salvo é tentar aperfeiçoar o que Cristo fez no Calvário, e isso não é possível.
E é possível aperfeiçoar o que Ele fez no Calvário?
Pode ser que você tenha visto alguém no púlpito ensinar que a salvação vem pelas obras. Isso pode acontecer, mas não reflete o pensamento da igreja; é um erro teológico que alguns pregadores, às vezes, cometem ao empregar algo que não é ensinado pela igreja.
Se somos salvos pela graça, isso vem pela fé; é um presente de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie por algo. Jesus contou essa história, mas também viveu outra para ensinar essa verdade.
Radical! Agora, eu gostaria de convidá-lo a refletir sobre o Calvário. Quando Cristo foi crucificado, havia duas cruzes ao lado da Dele. Alguns chamam os dois de ladrões, referindo-se a um como o bom ladrão e ao outro como o mal ladrão. Eu não sei se existe ladrão bom, né? O ladrão é, em essência, alguém desprezível. Mas ali estavam os dois ladrões.
Inicialmente, os dois insultavam a Cristo e duvidavam Dele, dizendo: ‘Se você realmente é quem afirma ser, o Cristo esperado, desça da cruz e nós creremos em você. Cadê a prova?’.
Porém, com o tempo, um deles começou a observar o comportamento de Jesus e como Ele tratava as pessoas. Naquela cruz, Jesus foi observado de perto por aquele ladrão. Ele viu quando os soldados crucificaram Jesus e, ao invés de tentar se soltar e blasfemar como os outros faziam, ouviu Jesus orar: ‘Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem’. E o ladrão pensou: ‘Esse é diferente, não é?’
E aí, Jesus estava orando pelos seus algozes, porque diziam que Ele estava sendo crucificado. E depois da cruz, Ele levantou os olhos ao céu, e o que provocou os rasgos nas mãos e nos pés de Jesus foi a Sua continuação em orar: ‘Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem’.
O ladrão observou que, antes de morrer, Jesus estava preocupado em deixar um lar para Sua mãe. Ele disse a João: ‘João, eis aí tua mãe’, e a Maria: ‘Maria, eis aí teu filho’. O discípulo mais jovem, ou seja, cuidem um do outro até que eu volte.
Antes de morrer, preocupado com o lar de Sua mãe, João tomou Maria como sua mãe, e até o dia em que ela faleceu, João cuidou dela.
“E essas cenas do Calvário tocaram profundamente o coração daquele ladrão. Foi nesse momento que ele abriu seu coração ao homem que estava ao seu lado e fez uma oração: ‘Senhor, quando vieres no teu reino, não te esqueças de mim’.
Essa oração alcançou os ouvidos de Cristo, como uma gota de água fresca no deserto. E Jesus respondeu a ele: ‘Em verdade, eu te digo que hoje estarás comigo no paraíso’.
Se alguém tem dúvidas de que aquele ladrão morreu salvo, como é que pode duvidar disso? Todos acreditamos, pois o próprio Cristo declarou isso. Agora eu pergunto a vocês: quantos sábados aquele ladrão guardou? Quanto dízimo ele devolveu? E quantas pessoas ele conduziu ao batismo? Ele nunca fez nada.
Ah, mas por que, então, Cristo o salvou? A salvação é pela graça. Uma antiga poesia diz que esse ladrão foi o maior ladrão do mundo porque ele roubou a vida inteira e, na hora da morte, obteve a salvação. No entanto, a poesia está errada; ele não roubou a salvação, mas aceitou aquilo que nos é oferecido gratuitamente.
E é assim que eu e você somos salvos. Se um dia estivermos nos céus, estaremos lá não pelas coisas que fizemos, mas por aquilo que foi realizado na cruz por todos nós. Pois é pela graça que sois salvos. Portanto, nada do que você fizer poderá contribuir para a sua salvação. Se a salvação fosse possível pelas obras, não seria pela graça.
Mas eu quero compartilhar mais uma parte com vocês, o que Paulo disse. Ele afirmou no versículo 10 de Efésios 2: ‘Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.’
Aguarde um momento. Parece que Paulo falou tudo o que precisava e, em seguida, mencionou as obras. Quer dizer, somos criados para as boas obras. Deus preparou boas obras para que nós andássemos nelas. Isso mesmo!
Mas o que Paulo está fazendo aqui? Paulo está colocando o processo da salvação em seu devido lugar. Primeiro, ele diz que somos salvos pela graça, mediante a fé, e isso não vem de vós; é um dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie.
Agora, uma vez salvos, devemos andar nas boas obras. Isso significa que há um espaço para as boas obras, mas não no plano da salvação, pois ele é completo em Cristo. No entanto, as boas obras servem a um propósito. E qual é o único propósito das boas obras?
Se você for até Apocalipse 22:12, descobrirá que João escreveu: ‘E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra.’ Portanto, somos salvos pela graça, mas o juízo é baseado nas obras. E por que o juízo pode ser pelas obras? Porque ele simplesmente identifica se as obras são boas ou más, e essas obras boas ou más evidenciam salvação ou perdição. Assim, a boa obra não salva ninguém; ela apenas evidencia quem foi salvo.
Havia um professor no seminário lá na Bahia. Naqueles dias, muitos não tinham carros. Um dia, meu professor estava subindo a ladeira, voltando para a escola em seu carro, quando viu a esposa de um teólogo carregando compras pesadas e subindo aquele morro. Ele parou o carro e ofereceu ajuda, oferecendo uma carona. Ela aceitou, ele a colocou no carro e a levou até sua casa. Quando chegaram lá, ela desceu com suas compras e, ao se voltar para ir embora, ela disse: ‘Professor, que Deus o abençoe.’ Ele contou para nós que se virou e respondeu: ‘Eu só trouxe a senhora aqui porque Ele já pagou.’ Portanto, não fazemos as coisas para receber, mas recebemos para fazer.
Fazer trabalho missionário não é um meio de alcançar a salvação, mas quem foi salvo deseja alcançar outros com a mesma graça que um dia o alcançou.
Portanto, Paulo está colocando as coisas no seu devido lugar, enquanto muitos colocam o carro na frente dos bois. Ensinar salvação pelas obras é equivocado; não pratico boas obras para ser salvo, mas sou salvo para praticar boas obras. Agora, qual é a boa obra que Deus aceita? Você sabe que existem boas obras que, na verdade, não são boas. A única boa obra que Deus aceita é aquela que é fruto da salvação.
E é aquela que é fruto do convívio que temos com Deus. Vou dar um exemplo; aliás, Jesus deu o exemplo. Jesus disse que, quando o Filho do Homem vier, Ele vai separar as ovelhas dos bodes, os salvos dos perdidos, à direita e à esquerda. Ele dirá assim aos salvos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, porque tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de beber; estava estrangeiro e fostes me visitar; preso e fostes ver-me.’
Nesse contexto, Jesus descreve várias boas obras. Quando Ele disser isso aos salvos, qual será a resposta deles? Eles perguntarão ao Senhor: ‘Mas, Senhor, quando foi que fizemos isso?’ O que essa pergunta evidencia? Ela demonstra que a verdadeira boa obra é praticada de forma inconsciente. Se você não planeja, ela acontece porque você foi salvo, e essa é a diferença.
Essa é a característica da boa obra: ela ocorre naturalmente na vida. Ela é inconsciente e é essa boa obra que indica a salvação; que confirma que alguém está salvo. Aquele que está salvo produz os frutos do Espírito, enquanto quem está perdido realiza as obras da carne. Portanto, a boa obra não salva ninguém; ela simplesmente evidencia quem está salvo e quem não está.
E é isso que Paulo está afirmando. Então, quando sou salvo pela graça, mediante a fé, o resultado natural dessa salvação será a prática das boas obras. E essa prática é inconsciente; só existe uma forma essencial de você praticar as boas obras: é quando você vive sua salvação com Cristo. O resultado será tão natural quanto é para um pé de manga produzir mangas, ou para um pé de laranja produzir laranjas, ou para um pé de morango produzir morangos. É tão natural quanto a própria natureza.
Assim, querer fazer algo para ser salvo é tão impossível quanto um pé de manga produzir um coco.