Em Tiago, capítulo 4, versículos 2 e 3, lemos: “Vocês cobiçam e não têm, matam e sentem inveja, mas não conseguem obter o que desejam. Vivem em conflito e fazem guerras. Não têm porque não pedem. Pedem e não recebem, porque pedem com intenções erradas, para satisfazer seus próprios prazeres.”
Ao refletirmos sobre a razão de orarmos, há duas verdades que devemos levar em consideração. A primeira é que o texto fala de pessoas que não têm o que querem porque não pedem, ou seja, quem não ora não recebe a intervenção divina.
Algumas bênçãos e respostas só serão experimentadas por meio da oração. Porém, a segunda verdade, que ajuda a equilibrar essa visão, é que devemos orar de forma correta. O texto também menciona pessoas que pedem, mas não recebem. Isso não acontece porque a oração não funcione, mas porque essas pessoas pedem de maneira errada, buscando apenas seus próprios prazeres.
Portanto, se não entendermos como orar corretamente, também não experimentaremos os resultados. Não há respostas para quem não ora, nem para quem ora de maneira equivocada. Isso nos leva a uma conclusão lógica: é necessário orar, mas, além disso, é fundamental orar corretamente para ver os resultados.
Jesus nos ensina a entrar em nosso quarto, fechar a porta e falar com o Pai que está em segredo, e Ele, que vê em segredo, nos recompensará. Isso prova que há recompensa e intervenção divina quando oramos da maneira certa, e essa verdade é inquestionável ao longo das Escrituras.
No entanto, gosto sempre de ressaltar que nada deve ser interpretado de maneira emocional, mesmo quando estamos falando sobre oração. Alguns falam sobre o quanto Deus nos ama e deseja nos abençoar, o que é verdade, mas no reino de Deus, tudo é baseado em leis e princípios que Ele mesmo estabeleceu.
Portanto, não importa o quanto Deus nos ame ou deseje derramar bênçãos sobre nossas vidas, ou mesmo quanto Ele já tenha determinado essa realidade espiritual em Cristo Jesus (como diz Efésios 1:3, que Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais). A oração ainda é o meio pelo qual acessamos tudo o que nos foi disponibilizado, e se não a utilizarmos, perderemos o acesso ao que já é nosso e nos foi dado em Cristo Jesus.
Então, ao questionarmos por que devemos orar, acredito que o primeiro ponto que devemos abordar é que a oração não é uma questão informativa. O propósito da oração não é simplesmente informar a Deus, como se dissessemos: “Senhor, caso o Senhor não saiba ou não tenha percebido, estou com um problema.”
Na verdade, em Mateus 6:7-8, Jesus nos ensina: “Quando orarem, não usem repetições vazias como os gentios, pois eles pensam que, pelo muito falar, serão ouvidos. Não sejam como eles, pois o Pai de vocês sabe o que vocês precisam antes de pedirem.” Jesus não está dizendo que, por Deus saber de tudo, não precisamos orar.
Na realidade, Ele está destacando a importância de pedir e orar, mas explicando que Deus já conhece as nossas necessidades. Portanto, ao enfatizar a oração, Jesus está deixando claro que a oração não é apenas informativa. Isso precisa ser entendido claramente. Não vamos apresentar diante de Deus algo que Ele já sabe, nem quer dizer que não devemos perseverar em oração.
Quando Jesus fala para não usar vãs repetições, Ele não está dizendo que não devemos orar várias vezes sobre o mesmo assunto, mas sim que a repetição em si, ou o simples fato de falar muito, não é o que nos faz ser ouvidos por Deus.
O que Ele ensina é que a perseverança na oração é importante, como vemos em Lucas 18:1, onde Jesus conta uma parábola para ensinar que devemos orar sempre e nunca desanimar. A perseverança na oração foi, portanto, um princípio ensinado por Jesus. Quando analisamos as declarações sobre oração, é fundamental entender que elas não se contradizem, mas se complementam. Repetir orações sem propósito não leva a nada, pois a oração não é informativa. No entanto, dentro do propósito da oração, a insistência é necessária. Quando falamos que a oração não é informativa, basta refletir sobre o fato de Deus ser onisciente, conhecendo todas as coisas, inclusive o futuro.
Portanto, é claro que Ele não precisa das nossas informações, mas, ainda assim, Ele nos manda orar sobre aquilo que Ele já sabe. Ele sabe das nossas necessidades, como a provisão diária, e mesmo assim nos instrui a orar: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje.” Isso demonstra que a oração não tem um caráter informativo. Além disso, a Bíblia utiliza o que muitos teólogos chamam de antropomorfismo, que é a atribuição de características humanas a Deus, para nos ajudar a entender o propósito e a forma da oração.
Deus utiliza expressões humanas que, embora não se apliquem plenamente a Ele, têm o propósito de nos ajudar a entender, de maneira limitada, quem Ele é. Frequentemente, vemos na Bíblia a oração sendo descrita como um “lembrar” de Deus. Coloco “lembrar” entre aspas, pois é claro que Deus não tem problemas de memória ou esquecimento, especialmente sendo onisciente e presciente.
Um exemplo disso é Isaías 62, versículos 6 e 7, onde lemos: “Ó Jerusalém, vocês, guardas, que nunca se calarão, nem de dia nem de noite, vocês que fazem com que o Senhor se lembre, não descansem nem deem a Ele descanso, até que Ele restabeleça Jerusalém e a ponha como objeto de louvor na terra.” Nesse trecho, fala-se de guardas ou atalaia que, dia e noite, clamam para que o Senhor se lembre de restaurar Jerusalém, colocando-a como um símbolo de louvor na terra.
Este “lembrar” não tem a ver com esquecimento de Deus, mas sim com a oração sendo uma maneira de invocar o cumprimento de uma promessa. A oração, nesse caso, é uma forma de reivindicar o que Deus prometeu. Não é sobre expressar nossa vontade, mas sobre recordar ao Senhor daquilo que Ele mesmo prometeu.Vários textos na Bíblia seguem esse padrão, como em Gênesis 19:29, que diz: “Assim, quando destruiu as cidades da campina, Deus se lembrou de Abraão e tirou Ló do meio da destruição.”
Quando Deus destruiu as cidades onde Ló morava, a expressão “Deus se lembrou” não indica que houve um esquecimento momentâneo de Sua parte, como se Ele tivesse perdido a memória e depois se lembrado. Na verdade, essa expressão é usada para destacar que Deus, após o clamor, tomou em consideração o que havia sido prometido. Um exemplo disso é em Êxodo 2:24-25, onde diz que “Deus ouviu o gemido do povo de Israel, lembrou-se da Sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó, viu a aflição dos filhos de Israel e atentou para a sua condição”.
Aqui, Deus ouve a oração dolorosa do povo e se lembra de Sua aliança, manifestando Sua atenção à situação deles. Em Êxodo 32, vemos Moisés intercedendo por Israel após o episódio do bezerro de ouro, quando Deus fala em destruir o povo.
Nos versículos 11 a 14, Moisés ora dizendo: “Lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, Teus servos, aos quais Tu mesmo juraste, dizendo…” Esse “lembra-te” é uma maneira de Moisés apelar para a promessa de Deus, lembrando-O de Seu compromisso com os patriarcas e pedindo que Ele sustente esse compromisso.
Em Neemias 1:8, vemos Neemias orando após o exílio, dizendo: “Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés, Teu servo, dizendo: ‘Se transgredirem, Eu os espalharei; mas se se converterem a Mim, guardando os Meus mandamentos e os cumprirem, então, mesmo que estejam nas extremidades do céu, Eu os ajuntarei.'”
Aqui, Neemias reconhece que o povo foi disperso devido aos seus pecados, mas apela à promessa de Deus, confiando que, com arrependimento, a restauração será possível. O Senhor nos traga de volta ao lugar que Ele havia prometido nos restaurar, caso houvesse arrependimento.
A oração, então, não tem como objetivo informar a Deus, embora muitas vezes ela seja usada para “lembrar” Deus, e vamos entender o que significa fazer Deus “lembrar” algo. Mas qual é o propósito da oração, se Deus já sabe tudo o que precisamos?
Por que Ele não resolve tudo diretamente sem que precisemos orar? Isso nos leva a outro questionamento, que já ouvi de muitas pessoas de forma direta e prática: onde fica a vontade de Deus? Se Deus deseja fazer algo, Ele pode fazê-lo porque quer.
Se Ele não deseja, não será a nossa oração que mudará isso. Então, como entendemos a relação entre oração, a vontade, a soberania e o governo de Deus? E se Deus faz o que quer o tempo todo, por que orar?
Se Ele vai fazer o que quer independentemente das nossas orações, e se Ele não fará o que não quer, então qual o propósito da oração? Essa é uma dúvida legítima: por que orar? Mais ainda, por que Deus nos ordenaria orar?
Será que Ele nos manda orar apenas como uma forma de nos entreter, como se a oração não tivesse efeito ou impacto algum? A resposta é que, evidentemente, as orações são ouvidas e atendidas, como a Escritura revela.
Em Josué 10:14, lemos: “Nunca houve um dia como aquele, nem antes nem depois, em que o Senhor tenha atendido a voz de um homem, pois o Senhor lutava por Israel.” Esse versículo mostra claramente que Deus ouve o clamor dos homens e age em resposta a ele.
Quando Deus fez o Sol e a Lua pararem no meio de uma batalha, a Bíblia afirma que Ele atendeu à voz de um homem, e não podemos negar esse relato. Em Salmo 6:9, Davi declara: “O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor acolhe a minha oração”, falando sobre como Deus escuta e acolhe as nossas petições.
Contudo, é inegável que a oração não pode ser vista de forma isolada, sem considerar a vontade de Deus. Jesus, por exemplo, nos ensinou que a oração é o meio pelo qual a vontade de Deus se estabelece.
Em Mateus 6:10, na oração do Pai Nosso, Ele nos instrui a orar dizendo: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” A pergunta é: por que pedir que o reino de Deus venha e a vontade de Deus seja feita, se ela se cumpriria de qualquer forma, mesmo sem a oração?
Mas, por outro lado, a oração é o caminho para que a vontade de Deus se manifeste. Por isso, a oração não pode ser discutida sem considerar o conceito da vontade de Deus. Em 1 João 5:14-15, vemos que orar de acordo com a vontade de Deus é garantia de resposta.
O versículo diz: “E esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos d’Ele: se pedirmos algo segundo a Sua vontade, Ele nos ouve.” Isso reforça que a oração alinhada à vontade de Deus tem a certeza de ser atendida.
Deus nos ouve, e se sabemos que Ele nos escuta em relação ao que pedimos, temos certeza de que receberemos o que Lhe pedimos. Isso significa que a confiança que temos n’Ele está ligada à ideia de que, se orarmos de acordo com a Sua vontade, Ele nos ouvirá. Por outro lado, orar contra a vontade de Deus não oferece garantia de resposta, enquanto orar alinhado à Sua vontade, sim.
O texto diz que, se sabemos que Ele nos ouve, podemos confiar que o que pedimos será atendido, especialmente se pedimos de maneira correta, como Tiago nos ensina. Pedir corretamente implica estar alinhado não apenas aos princípios e promessas revelados em Sua Palavra, mas também com o que Ele espera de nós, incluindo nossas motivações.
Quando Tiago fala de “pedir mal”, ele se refere à motivação errada. Ele diz que pedir com a intenção de satisfazer nossos próprios desejos egoístas pode levar a uma oração ignorada pelos céus.
Por outro lado, quando o desejo de compartilhar o que recebemos de Deus está presente, isso faz toda a diferença. Pedir mal pode ser contrário à vontade explícita de Deus, quebrando princípios estabelecidos por Ele na Escritura.
Não adianta orar por algo que é explicitamente contrário ao plano de Deus, à Sua vontade para a humanidade como um todo. Mesmo que o pedido esteja alinhado com a Sua vontade, se a motivação for errada, ainda podemos complicar as coisas.
No entanto, não podemos negar que, quando estamos alinhados à vontade de Deus em todos os aspectos, temos uma garantia de resposta. O ambiente de oração não é um lugar onde conseguimos fazer Deus ceder à nossa vontade. Aliás, tenho sempre enfatizado que…
A oração não é apenas o meio pelo qual conseguimos de Deus tudo o que queremos, embora seja verdade que podemos, sim, obter algumas coisas que desejamos. No entanto, a oração também deveria ser, de maneira equilibrada, o meio pelo qual Deus consegue de nós o que Ele quer — a rendição à Sua vontade.
Em Mateus 26:39, no momento em que Jesus ora no Getsêmani, a Escritura diz: “E adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre seu rosto, orando e dizendo: ‘Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres'”.
Aqui, Jesus expressa Seu desejo, mas deixa claro que Sua vontade não é o foco, e Ele se rende à vontade de Deus. Isso mostra que a oração também deve ser vista como uma forma de submeter nossa vontade à vontade divina. Existem orações na Bíblia que foram ignoradas por Deus, como o caso de Davi, registrado em 2 Samuel 12:15-23. Davi orou e jejuou, ficou prostrado diante de Deus por uma semana, pedindo que a criança, gerada por sua relação pecaminosa com Bate-Seba, não morresse.
Mesmo assim, a palavra de juízo trazida pelo profeta era clara: a criança morreria, e nenhum clamor poderia mudar essa determinação divina. Além disso, Provérbios 28:9 diz: “Quem desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável”.
A Bíblia fala de pessoas que, ao desobedecer a princípios divinos, tornam suas orações ineficazes, mostrando que a oração não é um meio para conseguir qualquer coisa, independentemente de nossa atitude em relação à vontade de Deus.
A oração é uma prática fundamental na vida cristã, não como um meio de forçar Deus a fazer o que desejamos, mas como uma forma de nos rendermos à Sua vontade e de clamarmos pelo cumprimento dos Seus planos.
Quando olhamos para as Escrituras, vemos que, embora Deus tenha um plano soberano e claro, Ele nos chama para orar e participar ativamente no cumprimento da Sua vontade. Deus é soberano e conhece todas as coisas, mas Ele escolheu nos envolver no processo por meio da oração.
O que isso significa é que, sem a nossa oração, algumas coisas que Ele deseja fazer podem não se concretizar. A oração é o meio pelo qual alinhamos nossas vontades com a d’Ele, e é um canal que Deus estabeleceu para que possamos participar de Seu plano divino.
Ao mesmo tempo, é importante compreender que a oração não serve para persuadir Deus a atender aos nossos desejos egoístas ou para mudar a Sua vontade. Deus, em Sua soberania, sabe o que é melhor para nós e já tem um plano perfeito para nossas vidas.
Quando oramos, não estamos tentando manipular Deus, mas estamos nos colocando em uma posição de rendição à Sua vontade, reconhecendo que Ele sabe o que é melhor para nós e confiando que Sua sabedoria é infinita.
Quando oramos alinhados com a vontade de Deus, nossas orações se tornam poderosas e eficazes, pois estamos pedindo de acordo com os princípios e planos que Ele já tem para nossas vidas. Por exemplo, Jesus nos ensina a orar pelo cumprimento da vontade de Deus quando nos dá o modelo de oração, o Pai Nosso.
Em Mateus 6:10, Ele diz: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”. Aqui, vemos que a oração não é apenas uma busca por nossos próprios desejos, mas é também um clamor pelo cumprimento do Reino de Deus e da Sua vontade, seja ela qual for. Deus deseja que a Sua vontade se realize na terra, e é através da oração que nós participamos dessa realização.
A oração diária, como o pedido do “pão nosso de cada dia”, nos ensina a depender de Deus para as nossas necessidades, reconhecendo que Ele é a fonte de tudo o que precisamos. Entretanto, a oração não deve ser vista como algo isolado de Deus, mas como uma expressão da nossa confiança e rendição ao Seu plano.
Deus nos ensina que a oração deve ser feita segundo Sua vontade, e isso nos é garantido em 1 João 5:14-15: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: que, se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve, qualquer coisa que pedimos, sabemos que já a recebemos”.
Portanto, orar de acordo com a vontade de Deus é a chave para a resposta de nossas orações. Se oramos fora da Sua vontade ou com motivações egoístas, nossas orações não terão efeito. A Bíblia nos ensina que orações feitas com intenções erradas, como aquelas que buscam apenas satisfazer nossos próprios desejos egoístas, são orações que, muitas vezes, Deus não atenderá.
Tiago 4:3 nos alerta sobre isso, dizendo: “Quando pedem, não recebem, pois pedem com más intenções, para gastar em seus prazeres”. Além disso, vemos exemplos na Bíblia de orações que não foram atendidas porque estavam fora da vontade de Deus.
Um exemplo claro é o caso de Davi em 2 Samuel 12:15-23, quando orou e jejuou pela vida de seu filho, que estava doente devido ao pecado de Davi com Bate-Seba. Apesar de toda a sua oração e súplica, a vontade de Deus era que o filho de Davi morresse, como havia sido determinado. Isso nos mostra que, embora possamos orar fervorosamente por algo, nem todas as orações serão atendidas se estiverem em desacordo com a vontade soberana de Deus.
A oração, portanto, deve sempre ser feita com um coração humilde e disposto a aceitar a resposta de Deus, seja ela afirmativa ou negativa. Quando entendemos que a oração é um meio pelo qual nos rendemos à vontade de Deus, começamos a perceber que, sem a nossa participação ativa, Deus pode não cumprir certos aspectos de Sua vontade. Por exemplo, em Mateus 9:37-38, Jesus diz: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita”. Deus deseja que a Sua vontade se cumpra, mas Ele espera que oramos para que isso aconteça. Ele quer que Sua vontade seja realizada, mas nos convida a orar para que as portas sejam abertas para a ação divina.
A oração é uma parceria entre Deus e o ser humano, onde Ele nos chama a fazer a nossa parte e a confiar em Seu plano. Em 1 Timóteo 2:1-4, o apóstolo Paulo destaca a importância da oração, dizendo que devemos orar por todos, inclusive pelos governantes, para que possamos viver em paz e quietude. Ele afirma que Deus deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Aqui, vemos que a oração é essencial para o cumprimento dos planos de Deus, como no caso da salvação das pessoas.
Embora Deus deseje a salvação de todos, Ele nos convida a orar para que essa vontade seja realizada.Isso nos mostra que, embora Deus seja soberano, Ele escolheu usar a oração como o meio pelo qual nos envolvemos ativamente no cumprimento de Sua vontade. Portanto, a oração tem um papel crucial na vida do cristão. Ela não é apenas uma ferramenta para obter o que queremos, mas um meio de alinharmos nossas vontades com a de Deus, de nos rendermos à Sua soberania e de participarmos ativamente no cumprimento dos Seus planos. A oração é uma expressão de confiança em Deus, reconhecendo que Ele é o Senhor soberano e que Sua vontade é sempre o melhor para nós.
Ao orarmos, devemos buscar, acima de tudo, que a vontade de Deus se cumpra, sabendo que, quando oramos de acordo com os Seus propósitos, Ele nos ouvirá e responderá nossas súplicas. Em determinado momento, senti que a situação estava um tanto “burocrática”. Lembro-me de uma situação em que Deus colocou em meu coração para fazer uma oferta a três missionários, um valor que eu não tinha. Naquele momento, eu disse a Deus que não tinha a menor condição de fazer essa oferta, pois não possuía dinheiro guardado nem bens para vender.
Eu já havia feito um grande sacrifício anteriormente, e sinceramente não via como poderia cumprir esse pedido. Minha resposta foi: “A única forma de eu conseguir isso é se o Senhor me enviar o dinheiro primeiro”. Falei quase em tom de brincadeira, expressando um desabafo. Nesse momento, o Espírito Santo me instruiu: “Faça isso, ore até que o recurso chegue, para que você possa dar”. Lembro o quanto me senti desconfortável durante a oração.
Às vezes, eu ria porque achava que estava sendo um processo complicado. Eu dizia: “Senhor, estou pedindo uma provisão, mas não para mim, e sim para atender ao que o Senhor me pediu. Isso é muita burocracia”. Meu raciocínio era: “Se o Senhor quer abençoar os missionários, por que não vai diretamente até eles?”.
Eu não percebia, naquela hora, que Deus estava me ensinando, de maneira prática, os princípios da oração. Um desses princípios, estabelecido por Deus desde a criação, é que Ele concedeu a Terra aos homens. O Salmo 115:16 diz: “Os céus são os céus do Senhor, mas a terra deu aos filhos dos homens”. Isso significa que Deus concedeu autoridade sobre a Terra, mas isso não é um domínio permanente, pois, eventualmente, Ele restaurará Sua soberania completa sobre a Terra.
Em Salmo 8, que resume a criação e o propósito do homem, lemos a partir do verso 4: “Que é o homem, para que te lembres dele, e o filho do homem, para que o visites? Fizeste-o por um pouco menor do que Deus, e de glória e honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; aos teus pés tudo puseste: ovelhas, bois, e todos os animais do campo, as aves do céu, e os peixes do mar, tudo o que percorre as veredas dos mares.”
Aqui, vemos que Deus deu ao homem domínio sobre a Terra, mas isso não implica que Ele tenha dado a propriedade da Terra de forma permanente.Ele concedeu a autoridade para governar durante um tempo específico, uma jurisdição temporária.
Por que é importante compreendermos isso? Porque, se Deus deu a autoridade sobre a Terra ao homem, Ele, em Sua grandeza e soberania, respeita essa autoridade que Ele mesmo decidiu conceder a nós. Em Lucas 4:5-6, na tentação de Jesus, Satanás mostra a Ele todos os reinos do mundo e diz: “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares”.
Ele então afirma: “Porque me foi entregue, e dou a quem eu quiser”. Jesus não questiona essa afirmação, não a refuta, pois sabia que de fato, a autoridade sobre os reinos do mundo foi temporariamente dada a Satanás, mas isso não diminui a soberania de Deus.Jesus, em sua reação à tentação de Satanás, simplesmente recusou se curvar diante dele, pois sabia que tomaria de volta o que havia sido entregue a Satanás por meio de sua obra redentora, sem precisar se submeter ao inimigo.
Jesus não contestou a afirmação de Satanás, dizendo que era mentira, mas reconheceu que a autoridade que Satanás afirmava ter, sobre os reinos, lhe havia sido concedida. Porém, isso não diminui a soberania de Deus, que sempre permanece absoluto em sua autoridade. A Bíblia nos diz que a Terra foi dada ao homem por Deus, mas quando o homem sucumbiu ao pecado, essa autoridade foi transferida a Satanás.
Em 2 Pedro 2:19, lemos que quem é vencido por algo se torna escravo daquele que o vence. Quando o homem cedeu ao pecado no Éden, de alguma forma ele entregou sua autoridade nas mãos de Satanás. Jesus veio para resgatar essa autoridade.
O que precisamos compreender é que, em alguns momentos, para que Deus realize o que deseja, Ele espera uma “solicitação”, como se fosse uma permissão legal para intervir em um domínio que não é mais totalmente d’Ele, mas que foi concedido ao homem e, por consequência, a Satanás.
Não se trata de uma jurisdição incontrolável para Deus, mas Ele respeita o domínio que, de certa forma, foi concedido ao homem. Um exemplo disso se encontra em Êxodo 32, quando Deus diz a Moisés para descer do monte porque o povo se corrompeu rapidamente e se afastou de Sua vontade, criando e adorando um bezerro de ouro.
Deus, então, diz a Moisés que está pronto para destruir o povo e recomeçar com ele. No entanto, Moisés intercede e pede a Deus para mudar de ideia, lembrando as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Deus, então, “muda de ideia”, como diz o texto, e não destrói o povo, mas o exemplo mostra que Deus, em sua soberania, permite que o clamor humano e a intercessão influenciem Seus planos. Isso não significa que Deus seja instável ou surpreendido pelo comportamento humano.
As profecias feitas a Abraão, como em Gênesis 15, já previam o processo de libertação do povo de Israel, mas Deus nos ensina, por meio dessa interação, que Ele, em Sua soberania, escolhe operar em resposta à oração e à intercessão dos Seus servos, respeitando a autoridade que foi dada ao homem.
O cântico profético de Moisés, registrado em Deuteronômio 32, revela que Deus já sabia que a nação se afastaria dele, mas isso não o pegou de surpresa. Em relação aos princípios espirituais, uma oração intercessória tem o poder de fazer uma grande diferença. Embora não possa necessariamente interromper a ira de Deus, ela pode adiá-la, oferecendo mais tempo e oportunidade. Isso se deve a uma questão legal e, por isso, devemos compreender que Deus espera que oremos para que Ele possa intervir na terra.
A oração, portanto, é um tema inesgotável, e só teremos uma compreensão completa dela no futuro. Deuteronômio 29:29 afirma que há coisas que são ocultas e pertencem a Deus, enquanto as reveladas nos são dadas para sempre. Não temos explicações detalhadas sobre todos os mistérios, mas Deus pode atender ao clamor de um homem.
Quando as orações estão alinhadas com Sua vontade, Deus pode realizar coisas que vão além dos interesses pessoais de quem ora, mas que têm impacto no Seu Reino. A oração também está ligada à batalha espiritual, como vemos no livro de Daniel, capítulo 10. Após um período de oração, jejum e clamor de Daniel, um anjo aparece a ele e explica que suas palavras foram ouvidas desde o primeiro dia em que ele se humilhou diante de Deus.
No entanto, houve uma resistência espiritual, pois o príncipe do reino da Pérsia o impediu durante 21 dias. Foi só com a ajuda de Miguel, um arcanjo, que o bloqueio foi quebrado. O anjo também diz que, após essa batalha, ele voltará a lutar contra o príncipe da Pérsia, e outro príncipe, o da Grécia, assumirá o controle mundial. Isso revela a natureza da batalha espiritual que enfrentamos, como Paulo descreve em Efésios 6, quando diz que nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades.
Para essa guerra, devemos usar toda a armadura de Deus. A oração, embora não seja uma arma física, é a chave para essa batalha. Ela é o meio pelo qual reivindicamos a intervenção divina em uma jurisdição que foi inicialmente dada ao homem, mas que, ao ser perdida para o inimigo, ainda gera conflito. A oração permite que Deus intervenha antes que o “prazo de arrendamento” dessa autoridade termine.
O julgamento final de Satanás ainda não aconteceu, mas Deus permite Sua intervenção antecipada, agindo de maneira que muitas vezes vai além da nossa compreensão. Se nos entregarmos à oração, teremos a oportunidade de vivenciar intervenções extraordinárias de Deus.
Para finalizar, cito 1 Pedro 3:12, que faz referência ao Antigo Testamento: “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e Seus ouvidos atentos às suas súplicas.” Isso nos ensina que, sem oração, a vontade divina pode não se cumprir, e que orações fora de Sua vontade não serão atendidas.
Contudo, quando conseguimos alinhar nossa oração com o entendimento do que Deus deseja, e com ousadia tomamos decisões dentro de Sua vontade geral, podemos experimentar grandes milagres e intervenções. Que isso te incentive a investir mais em sua vida de oração.