Tiago, no capítulo 4, versos 2 e 3, nos dá uma perspectiva clara: “Vocês cobiçam, mas não têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Nada têm porque não pedem. Pedem e não recebem, porque pedem mal, para esbanjarem nos seus prazeres.”
Esse texto nos apresenta duas verdades importantes sobre a oração.
Primeiro, há aqueles que “nada têm porque não pedem.” Isso significa que a falta de oração impede a intervenção divina em suas vidas. Há bênçãos e experiências que só são liberadas através da oração. Se não oramos, perdemos essas oportunidades.
Segundo, o texto também aborda quem “pede e não recebe.” Isso não acontece porque a oração seja ineficaz, mas porque pedem de maneira errada, com motivações egoístas ou desalinhadas com a vontade de Deus. Assim, não basta apenas orar; é necessário orar corretamente.
Portanto, não há resultados para quem não ora e, da mesma forma, não há resultados para quem ora de forma equivocada. Isso nos leva à conclusão de que, para experimentar os frutos da oração, precisamos não apenas orar, mas fazê-lo com o coração e a motivação certos.
Jesus nos ensina, em Mateus 6:6, a entrar no quarto, fechar a porta e falar com o Pai que está em secreto. Ele promete: “E o Pai, que vê o que é feito em secreto, o recompensará.” Isso reforça que há, sim, recompensas e intervenções da parte de Deus, conforme vemos em toda a Escritura.
Contudo, é importante lembrar que a oração não deve ser conduzida apenas pelas emoções. Muitos se focam apenas no amor de Deus e no quanto Ele deseja atender, mas a oração também é uma expressão de alinhamento com a vontade divina. Orar corretamente significa buscar a vontade de Deus acima dos próprios desejos.
Isso é verdadeiro, mas é importante entender que, no Reino de Deus, tudo funciona com base em leis e princípios estabelecidos pelo próprio Deus. Não importa o quanto Ele nos ame ou deseje liberar bênçãos sobre nossas vidas, nem o quanto Ele já tenha determinado essa realidade espiritual em Cristo Jesus. Efésios 1:3 nos lembra que Deus nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais. Ainda assim, a oração é o meio pelo qual acessamos essas bênçãos. Se não orarmos, podemos acabar perdendo o acesso a algo que já é nosso por direito em Cristo.
Então, por que devemos orar? A primeira coisa que precisamos compreender é que a oração não tem como propósito principal informar a Deus sobre nossas necessidades. Deus não precisa ser “avisado” dos nossos problemas. Em Mateus 6:7-8, Jesus diz: “E, orando, não usem de vãs repetições como os gentios, que pensam que, pelo muito falar, serão ouvidos. Não sejam como eles, porque o Pai de vocês sabe do que vocês precisam antes mesmo de pedirem.”
Aqui, Jesus não está sugerindo que, por Deus já saber, não precisamos orar. Pelo contrário, Ele está ensinando sobre a importância da oração. Ele afirma que Deus já conhece nossas necessidades, mas ainda assim nos instrui a pedir. Isso deixa claro que a oração não é meramente informativa.
Além disso, quando Jesus fala para não usarmos vãs repetições, Ele não está proibindo que oremos mais de uma vez sobre a mesma questão. Ele está enfatizando que não é a quantidade de palavras ou o ato mecânico de repetir que fará com que sejamos ouvidos. No entanto, isso não significa que não devemos perseverar em oração. Jesus nos encoraja a orar com frequência, mas de forma genuína e com fé, alinhados com a vontade de Deus.
Em Lucas 18:1, lemos que Jesus contou uma parábola para ensinar que devemos orar sempre e nunca desanimar. Isso enfatiza a importância da insistência e da perseverança na oração, ensinada pelo próprio Cristo. Ao analisar as diferentes declarações bíblicas sobre a oração, é crucial entender que elas não são contraditórias, mas sim complementares. A repetição pela repetição não produz resultados, e a oração não tem caráter informativo. Contudo, dentro de seu propósito, a insistência é essencial.
Quando dizemos que a oração não é informativa, podemos nos apoiar na onisciência de Deus. Ele conhece todas as coisas, inclusive o futuro, já que é pré-ciente. Ele não precisa ser informado sobre nossas necessidades, pois já sabe tudo o que vai acontecer. Apesar disso, Ele nos ordena a orar, mesmo sobre assuntos que já conhece. Por exemplo, Deus sabe que precisamos de recursos e provisão diária, mas Jesus nos ensinou a pedir: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje.”
Isso confirma que a oração não tem como objetivo “informar” Deus. Entretanto, a Bíblia usa recursos antropomórficos — figuras de linguagem que atribuem características humanas a Deus — para nos ajudar a compreender melhor nosso relacionamento com Ele. Expressões como “lembrar a Deus” são usadas, mas é evidente que Deus, sendo onisciente, não sofre de lapsos de memória. Essas expressões servem para nos provocar a refletir e a entender, ainda que de forma limitada, o que significa nos relacionarmos com um Deus infinito e perfeito.
Por exemplo, em Isaías 62:6-7, lemos: “Sobre os teus muros, ó Jerusalém, coloquei guardas que não se calarão nem de dia nem de noite. Vocês, que fazem o Senhor lembrar-se, não descansem, nem deem a Ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha como objeto de louvor na terra.” Esse texto fala de guardas ou atalaias posicionados sobre os muros, que intercedem incessantemente. A expressão “vocês que fazem o Senhor lembrar-se” refere-se à reivindicação do cumprimento de uma promessa divina: restabelecer Jerusalém e colocá-la em destaque, como objeto de louvor, após um período de decadência espiritual.
Essa ideia de “lembrar-se” não implica um esquecimento por parte de Deus, mas ressalta o papel da oração em vindicar o cumprimento das promessas divinas. É como dizer: “Senhor, o Senhor prometeu; estamos aqui para reivindicar aquilo que o Senhor mesmo disse.”
Esse padrão aparece em outros textos bíblicos. Por exemplo, em Gênesis 19:29, lemos: “Assim, quando Deus destruiu as cidades da planície, Ele se lembrou de Abraão e tirou Ló do meio da destruição.” O “lembrar-se” aqui não sugere que Deus tivesse esquecido, mas que levou em consideração a intercessão de Abraão momentos antes.
Outro exemplo está em Êxodo 2:24-25, onde a Bíblia diz: “Deus ouviu o gemido deles e lembrou-se da sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Olhou para os filhos de Israel e atentou para sua condição.” Aqui, o clamor do povo de Israel, em meio ao sofrimento, fez com que Deus agisse conforme Sua aliança, reafirmando que a oração pode estar ligada ao cumprimento de promessas que Deus já havia estabelecido.
Em Êxodo 32, vemos Moisés intercedendo em oração após o episódio do bezerro de ouro, quando Deus expressa a intenção de destruir o povo. Nos versículos 11 a 14, Moisés clama dizendo: “Lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo, dizendo…”. Esse “lembra-te” não significa que Deus tenha esquecido, mas é uma forma de apelar às Suas promessas e reafirmar o compromisso que Ele fez com os patriarcas, mostrando que a oração pode invocar a fidelidade divina às Suas palavras.
Um exemplo similar está em Neemias 1, a partir do versículo 8. Neemias, ao orar no contexto do pós-exílio, diz: “Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: ‘Se transgredirdes, Eu vos espalharei, mas se vos converterdes a mim, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então vos ajuntarei novamente, mesmo que estejais espalhados até os confins do céu.’” Aqui, Neemias reconhece que o povo foi disperso por causa de seus pecados, mas confia na promessa de Deus de restauração caso houvesse arrependimento. A oração, nesse caso, é um apelo à misericórdia e fidelidade de Deus com base em Suas próprias palavras.
Portanto, ainda que a oração não tenha como propósito informar a Deus, ela frequentemente inclui esse ato de “lembrar” Suas promessas. Isso nos leva a uma reflexão: se Deus já sabe tudo o que precisamos, por que Ele simplesmente não age sem que tenhamos que orar? Essa pergunta nos conduz a um questionamento ainda mais profundo: qual é o papel da vontade de Deus na oração? Se Ele deseja realizar algo, por que não o faz diretamente? E, se não deseja, será que a nossa oração pode fazê-Lo mudar de ideia? Esses pontos abrem caminho para uma análise mais detalhada sobre a finalidade da oração.
Como compreender a relação entre a oração, a vontade, a soberania e o governo de Deus? Surge a questão: se Deus faz o que quer a todo momento, por que orar? Afinal, se Ele já vai realizar o que deseja, isso não depende da nossa oração. E se Ele não deseja algo, nossa oração pode realmente mudar isso? Então, por que orar? Mais ainda, por que Deus nos ordenaria orar? Seria apenas um exercício simbólico, algo para nos ocupar sem impacto real?
A resposta bíblica é clara: orações são ouvidas e atendidas. A Escritura apresenta exemplos concretos disso. Em Josué 10:14, lemos: “Nunca houve um dia como aquele, nem antes nem depois, em que o Senhor atendeu à voz de um homem; pois o Senhor lutava por Israel.” Este relato descreve o evento extraordinário em que Deus parou o sol e a lua durante uma batalha em resposta à oração de Josué. O texto afirma claramente que Deus ouviu e atendeu à súplica de um homem.
No Salmo 6:9, Davi declara: “O Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor acolhe a minha oração.” Aqui, vemos Deus não apenas ouvindo, mas também acolhendo o clamor de Seu servo. Esses exemplos mostram que Deus realmente responde às orações.
Por outro lado, é essencial entender que a oração não é independente da vontade de Deus. O próprio Jesus nos ensinou que a oração é um instrumento pelo qual a vontade divina se estabelece. Em Mateus 6:10, na oração modelo conhecida como Pai Nosso, Jesus nos instrui a orar: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Essa orientação deixa claro que orar não é uma tentativa de mudar a vontade de Deus, mas sim um meio de alinhar nossos desejos com os d’Ele e de participar ativamente no cumprimento de Seu plano soberano.
Então, por que pedir todos os dias que o reino de Deus venha e que a vontade de Deus seja feita, se ela já se cumpre sem nossa oração? Jesus nos ensinou que essa oração tem um caráter diário, como vemos em “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Isso implica que devemos orar todos os dias, mas por que clamar diariamente pelo cumprimento da vontade de Deus, se ela se cumpre independentemente de nossa oração? A oração, na verdade, é o meio pelo qual a vontade de Deus se manifesta, e por isso, não podemos separar o tema da oração do conceito da vontade divina.
Em 1 João 5:14-15, vemos que orar de acordo com a vontade de Deus é garantia de resposta. O texto diz: “E esta é a confiança que temos para com ele: se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” Isso significa que orar contra a vontade de Deus não tem garantia de resposta, mas orar alinhado à Sua vontade, sim. O texto também nos assegura que, se sabemos que Ele nos ouve, podemos ter confiança de que Ele atenderá nossos pedidos, principalmente se pedirmos corretamente, como ensina Tiago. Pedir corretamente envolve alinhar nossas orações não apenas com os princípios e promessas revelados na Palavra de Deus, mas também com o que Ele espera de nós, incluindo nossa motivação.
Quando Tiago menciona que “pedis mal”, ele se refere a orações motivadas por desejos egoístas, como buscar algo apenas para o próprio prazer. Nesse caso, essas orações têm menos chances de serem atendidas. Por outro lado, quando o desejo de compartilhar o que recebemos de Deus está presente em nossa oração, isso faz toda a diferença.
Pedir mal pode significar ir contra uma vontade explícita de Deus, quebrando princípios claramente estabelecidos nas Escrituras. Não adianta orar por algo que seja claramente oposto ao plano e propósito divino, tanto para o ser humano como indivíduo quanto para a humanidade como um todo. Mesmo que o pedido esteja alinhado com os princípios de Deus, se a motivação for errada, a oração pode não ser atendida da maneira esperada. No entanto, se estivermos alinhados com a vontade de Deus, podemos ter a garantia de que nossa oração será ouvida.
É importante entender que o ambiente de oração não é aquele onde podemos forçar Deus a fazer o que queremos. A oração não é apenas o meio para conseguirmos de Deus tudo o que desejamos, embora seja verdade que algumas coisas que queremos podem ser concedidas. Ela também deve ser vista como o meio através do qual Deus consegue de nós o que Ele quer, ou seja, a nossa rendição à Sua vontade. Um exemplo claro disso está em Mateus 26:39, quando Jesus, no Getsêmani, ora dizendo: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres.” Aqui, Jesus expressa o seu desejo, mas submete sua vontade à de Deus, mostrando que a oração também deve ser uma rendição à vontade divina.
Na Bíblia, vemos orações que foram ignoradas por Deus, o que reforça a ideia de que a oração deve estar em sintonia com os princípios e a vontade de Deus.
Em 2 Samuel 12:15-23, vemos Davi orando, jejuando e se prostrando diante de Deus por uma semana inteira, pedindo que a criança, fruto de uma relação pecaminosa com Bate-Seba, não morresse. O profeta trouxe uma palavra de juízo de Deus, dizendo que a criança morreria, e apesar das súplicas de Davi, não houve oração que pudesse mudar a decisão divina. Além disso, em Provérbios 28:9, está escrito que quem desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável, o que destaca que a oração não pode ser vista como um meio de manipular Deus, especialmente quando há pecado envolvido.
Por outro lado, a oração é também um meio de se render à vontade de Deus e clamar pelo cumprimento de Seus propósitos. A relação entre oração e a vontade de Deus pode ser entendida ao refletirmos sobre vários textos bíblicos. A vontade divina, sem oração, pode não se concretizar, pois Deus muitas vezes nos convida a orar para que Ele possa agir conforme Sua vontade. A Bíblia nos ensina que Deus sabe o que precisamos e tem a intenção de nos cuidar e abençoar. Jesus nos lembra disso ao dizer que não devemos andar ansiosos, pois Deus cuida de nós. Contudo, Ele nos orienta a orar e pedir por nossa provisão diária. Isso significa que, mesmo sendo Deus soberano e cuidadoso, Ele deseja que oremos para que Ele possa realizar o que já deseja fazer por meio da oração.
A vontade divina, sem oração, pode não se cumprir, mas, por outro lado, a oração fora da vontade de Deus não será atendida. Isso implica que ambas as coisas estão interligadas. Significa que precisamos compreender que existem aspectos da vontade de Deus que são amplos e gerais, como ouvir o clamor dos homens, atender às suas necessidades e promover intervenções sobrenaturais que não apenas supram as necessidades humanas, mas também avancem o Reino de Deus. Isso não quer dizer que Deus vai parar o sol para todos, mas para aqueles que, dentro da compreensão de Sua vontade, ousam orar com fé alinhados aos Seus propósitos. Assim, a oração pode, de fato, ser uma expressão de fé, onde algo específico acontece porque a pessoa clama por algo dentro da vontade geral de Deus, algo que não aconteceria se não houvesse fé para pedir.
Entender a vontade de Deus e a oração dentro desse contexto requer equilíbrio, pois, embora a vontade de Deus seja muitas vezes revelada de forma ampla e geral, há também intervenções específicas que acontecem dentro desse escopo, às quais podemos acessar ao orar com fé. Quando questionamos o propósito da oração, precisamos, em terceiro lugar, entender a questão sob uma perspectiva legal. Por que devemos orar para que a vontade de Deus se cumpra? O apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 2:1, traz uma orientação sobre a importância da oração, dizendo: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças em favor de todas as pessoas.” Quando ele diz “antes de tudo”, está enfatizando a importância da oração, indicando que, antes de qualquer outra preocupação, devemos focar no coração de Deus.
Ele está destacando algo que é prioritário e essencial. Em seguida, ele continua dizendo que devemos orar pelos reis e por todos os que estão em posições de autoridade, para que possamos viver uma vida tranquila e pacífica, com toda piedade e respeito. Isso é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. O Deus que quer a salvação de todos nos instrui a orar por todas as pessoas, incluindo aquelas que nos perseguem. Ou seja, devemos orar pela salvação das pessoas, mas Deus quer que elas sejam salvas, e justamente por isso Ele nos convida a orar para que Sua vontade se cumpra. Já tive momentos em que, ao orar, disse a Deus que a situação parecia um pouco burocrática.
Vamos falar sobre os princípios estabelecidos por Deus desde a criação. Um deles é que Deus deu a terra aos seres humanos. O Salmo 115:16 diz que os céus são do Senhor, mas a terra Ele deu aos filhos dos homens. Isso não significa que a terra é dada de forma permanente, pois Deus ainda afirma que a terra é Sua e tudo o que ela contém, mas Ele concedeu autoridade sobre ela. Quando olhamos para o Salmo 8, que resume o que está escrito no livro de Gênesis sobre o propósito da criação, vemos que ele diz no verso 4: “Que é o homem para que dele te lembres e o filho do homem para que o visites? Fizeste-o um pouco menor do que Deus, de glória e honra o coroaste; deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, e sob seus pés, tudo lhe puseste: ovelhas, bois, todos os animais do campo, as aves do céu, os peixes do mar, tudo o que percorre as veredas dos mares”. Aqui, o domínio significa que Deus está dando autoridade de governo, não a propriedade de forma permanente, mas concedendo jurisdição e domínio sobre a terra por um tempo específico.
Por que precisamos entender isso? Porque, ao entregar a autoridade da terra ao homem, Deus respeita essa autoridade, que Ele, em Sua grandeza e soberania, decidiu conceder. Vamos tentar entender melhor isso. Em Lucas 4, nos versos 5 e 6, durante a tentação, Satanás mostra a Jesus os reinos e a glória do mundo e diz: “Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares.” Ele termina dizendo: “Porque me foi entregue, e dou a quem eu quiser.” Jesus não questiona a veracidade disso, mas simplesmente responde que não se curvará.
Jesus iria recuperar o que foi entregue a Satanás através de Sua obra redentora, sem precisar se curvar ao inimigo. Ele não questiona a veracidade disso, mas a questão é: quem deu essa autoridade a Satanás? A Bíblia nos diz que Deus entregou a autoridade da terra ao homem, mas o homem, ao ceder ao pecado no Éden, acabou entregando essa autoridade a Satanás. Como diz 2 Pedro 2:19, quem é vencido em algo se torna escravo daquele que o vence. Dessa forma, a autoridade dada ao homem foi transferida a Satanás.
Jesus veio para resgatar essa autoridade, mas o que precisamos entender é que, em alguns momentos, parece que Deus, para agir em uma jurisdição que já não é mais exclusivamente Sua, espera uma solicitação ou permissão legal para intervir, quase como uma requisição. Embora essa ilustração não tenha um paralelo perfeito, ela nos ajuda a entender a ideia de que, para agir em uma área que foi entregue ao ser humano, Deus precisa de uma espécie de autorização para intervir.
Um exemplo disso é o que acontece com Moisés em Êxodo 32:7-14, onde Deus diz a ele: “Desça, porque o seu povo, o povo que você tirou do Egito, se corrompeu rapidamente e se desviou do caminho que eu havia ordenado. Fez para si um bezerro de metal fundido, adorou e fez sacrifícios, dizendo que ele era o deus que os tirou do Egito.” Deus então declara: “Tenho visto esse povo, e que povo teimoso! Agora, deixe-me, para que meu furor se acenda contra eles e eu os consuma, e de você farei uma grande nação.” Deus está dizendo a Moisés para se afastar, pois Ele estava pronto para destruir o povo e recomeçar com Moisés, mas não voltava atrás na promessa feita a Abraão.
É interessante perceber que Deus, nesse momento, pede permissão para agir, e Moisés responde de forma enfática, dizendo “não, não, não”, o que não significa que estamos governando Deus. O texto diz que Moisés suplicou a Deus, pedindo que Ele não se irasse contra o povo, lembrando o poder com que Ele os tirou do Egito e o perigo de os egípcios zombarem, dizendo que Deus os havia tirado apenas para matá-los. Moisés pede a Deus para abandonar Sua ira e mudar de ideia, lembrando-Lhe das promessas feitas a Abraão, Isaque e Israel. O Senhor então mudou de ideia sobre o mal que havia planejado contra o povo.
Embora a Bíblia use o antropomorfismo para descrever Deus de maneira acessível a nós, ela não está sugerindo que Deus seja instável ou pego de surpresa pela desobediência do povo. Deus já havia revelado, de forma profética, como o povo se comportaria e os eventos futuros, como vemos em Gênesis 15 e no cântico de Moisés em Deuteronômio 32. O que Deus nos comunica aqui é que, diante dos princípios espirituais, a oração intercessória pode fazer uma diferença significativa. Ela não necessariamente interrompe a ira de Deus, mas pode adiá-la, oferecendo mais tempo e oportunidade para o arrependimento.
Existe uma questão legal que precisamos entender: Deus espera que oremos para que Ele possa intervir na terra. Acredito que o tema da oração é vasto e nunca seremos capazes de compreender totalmente, pois como diz Deuteronômio 29:29, “as coisas ocultas pertencem a Deus, mas as reveladas são para nós e nossos filhos para sempre”. Embora não tenhamos todas as explicações sobre os mistérios divinos, o que Deus revela nos mostra que Ele pode interromper tudo para atender ao clamor de um ser humano. Sabemos que orações contrárias à Sua vontade não são atendidas, mas quando feitas dentro da Sua vontade, essas orações podem resultar em experiências que de outra forma não aconteceriam. Deus pode fazer coisas que não são apenas para o benefício individual de quem ora, mas que também têm a ver com Seu reino e com a batalha espiritual.
Em Daniel 10, vemos um exemplo claro dessa batalha espiritual. Após Daniel orar, jejuar e interceder pela nação de Israel, um anjo aparece a ele e diz: “Não tenha medo, Daniel, porque suas palavras foram ouvidas desde o primeiro dia em que você se dispôs a compreender e se humilhar diante de Deus. Foi por causa dessas palavras que eu vim. No entanto, o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante 21 dias. Mas Miguel, um dos príncipes mais importantes, veio me ajudar, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia.” O anjo está dizendo que, embora sua oração tenha sido ouvida desde o começo, ele enfrentou resistência espiritual. O “príncipe do reino da Pérsia” se refere a um principado maligno, e a batalha foi tão intensa que Miguel, o arcanjo, teve que intervir. O anjo menciona que, após essa vitória, ele retornará à batalha, pois “o príncipe da Grécia” assumirá o controle, e a luta continuará. Isso ilustra como a batalha espiritual vai além do que conseguimos entender.
Quando Paulo afirma que nossa luta não é contra carne e sangue, como eram as guerras no Antigo Testamento, mas contra principados e potestades, ele nos mostra que, para essa batalha espiritual, precisamos usar toda a armadura de Deus. Porém, após falar sobre o uso da armadura, ele também menciona que devemos orar com toda súplica. A oração não é apenas uma arma, mas a própria guerra. Na luta entre a vontade de Deus e o reino das trevas, a oração se torna um meio que permite que a vontade de Deus se estabeleça. Ela age como uma reivindicação para uma intervenção divina em uma jurisdição que foi dada ao homem, mas que foi corrompida pelo inimigo. Ainda que a resolução completa disso aconteça apenas no julgamento final de Satanás, a oração permite que Deus intervenha de maneira antecipada na terra, antes do fim do prazo que Ele estabeleceu.
A oração nos oferece a oportunidade de ver intervenções extraordinárias de Deus, que, caso nos entreguemos de verdade a ela, podemos vivenciar. Como diz 1 Pedro 3:12, que é uma citação do Antigo Testamento, “os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas súplicas.” A vontade divina pode não se cumprir sem a oração, e orações fora da vontade de Deus não serão atendidas. Mas, ao misturarmos entendimento sobre o que Deus quer com uma postura ousada, até escolhendo aspectos que Ele não revelou de maneira clara, podemos experimentar grandes milagres e intervenções. Que isso te motive a investir mais em sua vida de oração.